Bushcraft PT

Estar na natureza de forma rudimentar, tem intrínseco alguma dificuldade física e psicológica. Mas é essa luta contra as adversidades, que me dá gozo.

Assumo que em tempos também usei o "chavão" da "sobrevivência" para designar umas "cenas" que fazia (e faço) no mato, apesar de as fazer apenas pelo gozo e não como treino para uma qualquer eventualidade longínqua e romântica de me preparar para uma catástrofe, cataclismo, ...

Em tempos discutimos aqui no fórum, se realmente é possível considerar que se está preparado para sobreviver no mato, (numa situação de real emergência), apenas com base em conhecimento teórico e equipamento, ou seja sem nunca se ter treinado num contexto semelhante.
Concluiu-se que a experiência e a habituação faz diminuir o risco, faz diminuir o stress, aumenta potencialmente a capacidade de sobrevivência.

Para estarmos preparados, seria bom que treinássemos em situações (simuladas), as mais próximas possíveis do real; (claro que sempre dentro das nossas capacidades de superação).
É processo evolutivo, em que rotinamos procedimentos e otimizamos o nosso desempenho. Tal implica sairmos da nossa "zona de conforto", eventualmente expormo-nos progressivamente a riscos maiores, (aumentando o risco na medida em que o controlamos). Quando estamos confortáveis (sem stress) num nível, passamos ao nível seguinte.

Apesar deste processo de melhoria gradual, a questão psicológica nunca é treinável a 100%, porque as variáveis destas situações são tantas, que por muito treino que haja, há sempre coisas que ainda não vivenciamos, que não treinamos e que nos "mandam" psicologicamente abaixo.

Há ainda outros fatores também bastante importantes nestes contextos, que são a motivação e a necessidade. Esses fatores influenciam em muito a nossa capacidade de enfrentar riscos ou suportar adversidades.

A nossa resiliência…

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- venitur tuo natura -

Ora aí está um excelente tema. Eu tenho uma opinião diferente, acho que a parte psicológica é treinável sim. O treino da mente não tem que ser obrigatoriamente associado aos desafios pontuais da vida, acho que o importante é aceitá-los todos da mesma forma, sem considerar qualquer tipo de fator. Se quiseres faz uma pesquisa sobre ''The Wim Hof method''. É muito interessante e foi comprovado cientificamente.

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''Possuir conhecimento e treino para sobreviver é importante, mas ter o desejo de viver é fundamental.''

Vejam este link, eu pessoalmente gosto muito da abordagem do Les Stroud, muito prática e com conhecimentos "em primeira mão":
http://www.looper.com/31328/untold-truth-survivorman/

Eu não disse que não é treinável, disse é que ...



Também aprecio mais a sua abordagem, comparativamente com outros "survival shows"

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- venitur tuo natura -

Relativamente a este tópico que considero muito importante, tenho a dizer o seguinte! Além do conhecimento e das técnicas adquiridas ao longo de vários anos no mato, essa questão de superar os desafios da mentem, nunca chega a ser ultrapassada, enquanto não tiver uma situação real! Por mais que a gente tente recriar uma situação de emergência, nunca consegui-mos ter a nossa mente no ponto de rotura, porque sabemos à partida que estamos numa situação controlável. É claro que ninguém arrisca fazer esse teste, porque não sabemos como será a nossa reação numa situação limite! Eu só por uma vez tive um caso em que pensei por isso, quando estava acampado e começou a nevar! Inicialmente comecei a ver a paisagem a modificar-se e achava bonito aquele cenário, estava afastado do local do abrigo e comecei a andar para lá, à medida que ia chegando perto é que comecei a pensar na questão de ficar isolado naquele sítio. Pensei logo que teria de redobrar todas as atenções para a minha segurança física, era importante não me magoar pois estaria numa situação complicada em termos de resgate! Ai pensei... e agora se me acontece um acidente, como saio daqui ou como me vão salvar? Foi nesta aventura que me deu aquele click que muitas vezes vamos para o mato e já estamos tão à vontade que não pensamos sequer nestes pormenores!!

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[Em pequeno chamavam-me "bicho do mato" porque não saia de casa! Agora estou no mato e chamam-me para casa!!! Ironia do destino]

Eu pessoalmente acho que a parte psicologica é bastante dificil de ultrapassar quando estás numa situação de emergencia. Seja porque razão for e mesmo com muito treino nunca passas por uma situação real até passares por ela.
Vamos supor que ficaste naufragado numa ilha qualquer, e tu até és uma pessoa que sabes sobreviver apenas com um pau e uma pedra, mas só o facto de teres passado pelo naufrágio, possivelmente teres perdido familiares ou amigos no mesmo e até outros factores fisicos resultantes de teres estado na água por algumas horas, leva-te a que psicologicamente não fiques nada bem. E quando assim é cometem-se erros, e a natureza nesses casos não perdoa erros.
Existem depois outros fatores que consegues controlar, por exemplo o medo de estar no mato. Por incrivel que pareça, um dos maiores problemas para as equipas de resgate encontrarem sobreviventes de acidentes no mato ou turistas perdidos, é o facto de que durante a noite eles ficam acordados com medo e dormem durante o dia, o que torna muito dificil alguém os encontrar deitados no meio do mato.
Admito que as minhas primeiras saidas sozinho foram um pouco assustadoras, mas quanto mais vais conhecendo os proprios sons da mata mais te vais habituando. Hoje em dia é bastante facil para mim ficar em qualquer sitio sem preocupação alguma, mas isso veio apenas com o tempo e conhecimento.

Vou aqui mencionar uma série de televisão (penso que já mencionei no passado pelo menos 1 vez) que é a "I shouldn't be alive" -> Link IMDB http://www.imdb.com/title/tt0492429/

Nesta série podem ver relatos de sobreviventes de situações extremas, situações essas que como o nome da série diz são tão graves (verdadeira sobrevivência) que os protagonistas não deviam estar vivos (foi um "milagre" sobreviverem).
O "engraçado" da série é ver-se a diferença destas situações de sobrevivência e emergência reais comparadas com outras séries de sucesso da TV, com temas de sobrevivência. Sim, há muita coisa que podia ser evitada, boas práticas que aqui se comentam no fórum e são tidas como o básico de estar preparado foram ignoradas, quer a nível de equipamento quer a nível de conhecimento: muitos dos sobreviventes não faziam a mínima ideia onde se estavam a meter, não levavam agasalhos, equipamentos de comunicação, telemóvel, sem meios de fazer fogo, etc. Mas em muitos casos as situações foram consequência de acidentes graves, imprevisíveis mesmo para os "experts", como por exemplo levantar-se a meio da noite para "dar uma mija" e cair-lhe uma pedra enorme em cima...
Há episódios (são sempre relatos de situações reais) em que o "rambo" do grupo é o primeiro a sucumbir, outros em que foi precisa tanta sorte para se sair da situação como foi preciso azar para se ver nela, mas em todas elas o factor psicológico é evidenciado pelos ditos "sobreviventes" - muitas vezes com lesões e mazelas para a vida, em grande parte físicas mas muitas vezes psicológicas.

acabei agora a 6ª temporada e, de facto, em alguns dos casos as lesões são tão graves que mesmo com todo o treino do mundo a única explicação para se terem safado foi a vontade de viver e recusa em desistir. O factor psicológico, a meu ver, continua a ser o factor nº1 em termos de sobrevivência.

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Having a sense of total freedom is having the freedom to die if you screw up.
George Michaud - trapper

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- venitur tuo natura -

nº1....spot on!

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George Michaud - trapper

Fui ver o vídeo e muito sinceramente já sabia que alguns destes mitos não nos ajudariam em questões de sobrevivência, por isso, não estava a achar muita piada o vídeo por ser demasiado óbvio para mim. Contudo ele no final faz aquela observação sobre a nossa mente e o nosso estado de espírito, ai ganhou logo pontuação máxima! Isso é que nos faz ultrapassar uma dificuldade numa situação crítica e ponto final.

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[Em pequeno chamavam-me "bicho do mato" porque não saia de casa! Agora estou no mato e chamam-me para casa!!! Ironia do destino]