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Fórum de Bushcraft e Técnicas de Sobrevivência
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MensagemEnviado: domingo mai 31, 2015 11:26 am 
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Teo
Sim, a análise não incide apenas naquilo que se está a usar, mas na sua função, ou seja COMO obtenho algo. A forma como cozinhas algo, a forma como fazes o fogo, etc.

Cozinhar a lenha as plantas apanhadas no local é que tipifica o bushcraft, não são as latas e as penelas, fazer feather sticks é que tipifica o Bushcraft, não é a madeira ou faca que estás a usar.

Há sempre alguma de subjetividade nisto, principalmente quando fazemos apenas um jogo de palavras sem visualizar a situação. Em concreto, na presença de todas as circunstâncias, é mais fácil fazer a distinção do que deve ser ou não considerado bushcraft.

Teo Escreveu:
(...) apenas que regras servem um propósito, limitar algo.
Sim o propósito é esse. Estabelecer limites para aquilo que deve ser considerado bushcraft
Regra, é algo que é usual ou habitual e que é comummente é aceite como principio regulamentador, um padrão comum.

Se a regra é a desordem, pagarás por instituir a ordem”. - Paul Valéry

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Editado pela última vez por Jan em domingo mai 31, 2015 1:38 pm, num total de 1 vez.

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MensagemEnviado: domingo mai 31, 2015 12:17 pm 
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Numa atividade no mato, quanto mais alargado for a ação que queremos definir como bushcraft, menos ela será enquadrável a 100% no conceito de bushcraft.

PIRÂMIDE DO BUSHCRAFT
Na sua essência (válido para toda a pirâmide) o bushcraft engloba todos os conhecimentos (saber), competências (saber fazer) e atitudes (saber estar), que possibilitam uma vivência integrada na natureza, sustentada na utilização dos seus recursos.

No topo da pirâmide está o conceito, (quase utópico) do bushcraft total, ou seja, subsiste-se sem nada (nu), sustentado integralmente na recolha e utilização daquilo que a natureza ali nos proporciona, sem o auxílio de qualquer equipamento ou ferramenta.

No nível abaixo está o conceito "primitivo", ou seja, subsiste-se recriando o modo de vida primitivo, utilizando apenas artefactos artesanais (preferencialmente feitos pelo próprio), não se utilizando qualquer equipamento ou ferramenta moderna.

A seguir encontra-se o nível do conceito "minimalista", baseado no axioma, "leva o mínimo de equipamento e o máximo de conhecimento". São selecionados os itens prioritários para subsistir, na medida em que facilitam a recolha e transformação daquilo que a natureza ali nos proporciona, (faca, machado, cantil, panela, corda, kit de sobrevivência, etc.)

No nível mais baixo, encontra-se o conceito Bug-Out-Bag (BOB), para situações de emergência, ou seja subsiste-se paramentado com uma série de equipamento hitech e utra-ligth criteriosamente escolhido. Neste nível a utilização dos recursos da natureza é reduzida.

Claro que podes estar atolado de equipamento e fazeres bushcraft, (desde que não o utilizes), como podes fazer bushcraft na garagem, (para treinar).

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MensagemEnviado: segunda jun 01, 2015 10:14 am 
O tipo dos bonecos
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acho que concordamos que o oficio do mato requer uma série de conhecimentos que nos levam a prescindir de equipamento.
porque é que não acho que a pirâmide funcione enquanto definição?
porque apesar de tudo somos homens modernos, com tecnologia e equipamento, e isso não deve ser posto de parte.
nem o homem primitivo ia nu para o mato: transportava consigo equipamento, muitas vezes feito por outros, vivia em comunidade.
e esse modelo piramidal pode levar à ideia de que o ideal a alcançar é o primitivismo romântico.
quando o bom do bushcraft é que nos leva a considerar o equipamento actual, de modo a que ele seja um acrescento e não uma dependência.
existem imensas situações em que uma bússola e um mapa são do mais essencial (principalmente em territórios vastos e desconhecidos), e por mais que um tipo saiba orientar-se sem bússola e mapa, será um risco para a integridade física não os usar.
não é por acaso que o homem primitivo tinha uma esperança de vida tão baixa.

é preciso encontrar um equilíbrio entre o uso de conhecimentos do meio natural e o uso de tecnologia moderna, saber avaliar o seu impacto, local e global, e fazer as melhores escolhas.
é possível exercer um craft com equipamento moderno, porque vamos na mesma para o mato com um mínimo de equipamento e usamos recursos naturais. a diferença entre o bushcraft e o primitivismo é que entretanto tivemos milénios de desenvolvimento de tecnologia, que nos permitem construir um instrumento de corte bestialmente mais eficaz e duradouro que a lasca de silex, e vivemos mais tempo precisamente porque incorporámos essa tecnologia.
Podemos discutir as vantagens de usar uma faca de fábrica ou uma peça artesanal, reconhecer os custos de produção e transporte e o decorrente impacto ambiental e fazer uma escolha esclarecida.

Não acho portanto que deixe de haver algum grau de sabedoria no ofício quando se usa equipamento moderno.

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Pedro Alves / Toonman
Instrutor de bushcraft e técnicas de sobrevivência na Escola do Mato


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MensagemEnviado: segunda jun 01, 2015 3:05 pm 
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toonman Escreveu:
apesar de tudo somos homens modernos, com tecnologia e equipamento, e isso não deve ser posto de parte.
Porque não?
toonman Escreveu:
esse modelo piramidal pode levar à ideia de que o ideal a alcançar é o primitivismo romântico.
A pirâmide não é relativa ao ideal (cada um tem o seu) é ao nível de dificuldade, pois temos que fazer tudo com os recursos naturais.
toonman Escreveu:
o bom do bushcraft é que nos leva a considerar o equipamento actual, de modo a que ele seja um acrescento e não uma dependência.
Não há bom ou nau no bushcraft, há estilos se calhar uns mais românticos que outros. Porque é que a não dependência de equipamentos modernos é mau?
toonman Escreveu:
existem imensas situações em que uma bússola e um mapa são do mais essencial (principalmente em territórios vastos e desconhecidos), e por mais que um tipo saiba orientar-se sem bússola e mapa, será um risco para a integridade física não os usar.
não é por acaso que o homem primitivo tinha uma esperança de vida tão baixa.
Não vejo essa causa / efeito. Não é o não uso da bússola que nos diminui a esperança de vida. A prática do bushcraft é nos dias de hoje momentânea.
Uma atividade que use o bushcraft torna-se intrinsecamente humana. Nós evoluímos dessa forma, (sem bússola e outros apetrechos), fomos feitos nesse modo de vida. Haverá coisa mais salutar?
toonman Escreveu:
é preciso encontrar um equilíbrio entre o uso de conhecimentos do meio natural e o uso de tecnologia moderna, saber avaliar o seu impacto, local e global, e fazer as melhores escolhas.
Pois, deixa cada um estabelecer o seu equilíbrio, fazer as suas opções. Isto não tem que ser "chapa 5".
toonman Escreveu:
a diferença entre o bushcraft e o primitivismo é que entretanto tivemos milénios de desenvolvimento de tecnologia, que nos permitem construir um instrumento de corte bestialmente mais eficaz e duradouro que a lasca de silex, e vivemos mais tempo precisamente porque incorporámos essa tecnologia.
Até parece assim que quem não usa equipamentos modernos, não faz bushcraft?
toonman Escreveu:
Não acho portanto que deixe de haver algum grau de sabedoria no ofício quando se usa equipamento moderno.
Há um grau de dificuldade e uma sabedoria extra, pois, como no exemplo, tens que também saber fazer algo que corte.

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MensagemEnviado: segunda jun 01, 2015 3:53 pm 
O tipo dos bonecos
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Jan Escreveu:
Porque não?

porque o avanço da tecnologia também faz parte de quem nós somos.
caso contrário não poderias fazer pontas de setas, que foi uma evolução tecnológica da talha lítica, e terias que te manter pelas lascas brutas. ou poderiamos ir mais atrás e ficar-nos pelos ossos.
afinal devemos usar conhecimentos e tecnologia ou não? se devemos, onde é que marcamos o limite? só é aceitável usar uma faca se todo o processo for feito em campo, da extracção do minério à têmpera? a forja no mato já é bushcraft?

a pirâmide que defines tem apenas como distinção o grau de tecnologia individual envolvido na execução, uma vez que concordo em absoluto com a tua definição da essencia.
a vantagem que a tecnologia nos traz é facilitar bestialmente as nossas necessidades básicas de sobrevivência. já não precisamos de gastar imenso tempo e energia a suprir os nossos recursos mais básicos, deixando tempo para explorar, criar e encontrarmo-nos.
muitas vezes esta tecnologia é um resultado de uma existência em comunidade e no principio da divisão de tarefas, por causa da complexidade envolvida e do tempo que demora a executar o objecto. ao não incluir a tecnologia só porque ela é o resultado do esforço comunitário, estás a deixar de fora uma parte importante da condição humana.

onde é que eu marco o limite do uso de tecnologia?
no equilíbrio entre a minha segurança física e a minha capacidade de usar recursos naturais.
sendo assim, a fronteira pode variar imenso, mas nunca chegará a entrar nú no mato, por mais que eu domine o assunto, não só porque me estarei a por em risco desnecessariamente (posso atingir os meus objectivos sem me por em perigo) mas também porque não tenho essa necessidade enquanto homem moderno.
o prescindir de tecnologias modernas não é um fim em si mesmo, e como tal não funciona para mim como definição de bushcraft.

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Pedro Alves / Toonman
Instrutor de bushcraft e técnicas de sobrevivência na Escola do Mato


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MensagemEnviado: segunda jun 01, 2015 6:54 pm 
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Claro que o avanço da tecnológico faz parte da nossa evolução civilizacional, mas a evolução fisiológica é mais lenta, (ainda estamos fisicamente e mentalmente formatados como caçadores recolectores).
Em resultado dos avanços civilizacionais, perdemos os conhecimentos, as competências e as atitudes tão relevantes para o bushcraft, mas o nosso corpo continua com o registo emocional e físico para subsistir na natureza, daí o prazer da aventura , do esforço do desporto, dos aromas das flores, do carinho pelos animais, etc.
Para suprir tais necessidades, a "civilização" criou uma série de atividades substitutas, que têm apenas a sua razão de ser no acima dito, (como a necessidade de praticar desporto).

Na mesma linha de pensamento, encontra-se a razão para usar as mestrias do bushcraft.
Eu adquiri o gosto de interagir com a natureza desta forma intrinsecamente humana. Pelo motivo acima exposto, tento recriar o modo de vida do caçador recolector. Mas não é fazendo teatro, tipo vestir umas roupas de couro e ter uns canecos de madeira. É sim colocar-me naquele ambiente, numa situação idêntica, (física e emocionalmente). Levo equipamentos modernos, mas a minha lista de itens é a mesma do homem primitivo.
O cenário não é o do artesão a fazer uma faca de pedra numa exposição qualquer. É o de estar num ambiente recôndito e inóspito, num jogo de desafio pessoal, de superação de imprevistos com improvisos, e sentir emoção e prazer nisso.

Para mim o bushcraft funciona assim...

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Editado pela última vez por Jan em segunda jun 01, 2015 6:57 pm, num total de 1 vez.

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MensagemEnviado: segunda jun 01, 2015 6:56 pm 
Photographus Africanus
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Depois de 14 mesinhos em África tenho-vos a dizer que a minha visão do que é esta coisa do bushcraft, sobrevivência e primitivismo estava, para mim pelo menos, muito, senão toda errada.

toonman Escreveu:
muitas vezes esta tecnologia é um resultado de uma existência em comunidade e no principio da divisão de tarefas, por causa da complexidade envolvida e do tempo que demora a executar o objecto. ao não incluir a tecnologia só porque ela é o resultado do esforço comunitário, estás a deixar de fora uma parte importante da condição humana.

Os grupos humanos não se organizam aqui na savana porque gostaram da visão de Marx.
Os grupos humanos não se unem para fazer tarefas em conjunto para reduzir o tempo de execução.
Os grupos humanos não se reúnem para partilhar os instrumentos de trabalho e optimizar o esforço colectivo.
Os grupos humanos não se agrupam por razões sociais ou culturais.

Os grupos humanos reunem-se trabalham em conjunto e fazem as coisas como fazem porque caso contrário estavam bem lixados (com F maiúsculo).

Não vejo cá ninguém a pensar em impactos globais, aliás, o global é um conceito desconhecido, mesmo os povos nómadas vivem numa zona que para nós é uma "região", um "país", uma horita de avião.
Vive-se num micro cosmos tão pequeno (de recursos e tecnologia) que nunca se poderia ter um impacto que atingisse para lá do nosso alcance físico ou temporal.
E existe uma noção de reciprocidade/dependência da natureza muito, mas muito mais estreita, qual leave no trace qual quê...

Tive oportunidade à alguns meses de falar com um grupo de mulheres mumuilas, que para mim são só dos povos mais badass acima da Terra em termos de sobrevivência em climas e terrenos lixados e tenho-vos a dizer que depois de saber como é que se atravessa mais de mil kms de terreno, com duas amigas, 3 crianças e uma dúzia de cabeças de gado, o bushcraft, primitivismo, prepperismo, campismo ou o que queiram chamar ao que fazemos aí, é um desporto para meninos.
Lamento imenso e contra a própria visão que tinha falo, mas comparativamente, andamos a discutir o sexo dos anjos.

E porque é que estou tão convencido disto?

Estamos a discutir se cozinhar com lenha, hobo stove, fogão a álcool ou a gás é bushcraft porquê?
Simplesmente porque podemos.

Pegando na citação do Jan que parece mais consensual até agora temos:


Jan Escreveu:
O bushcraft não é uma atividade ou um oficio de intenções a que nos entregamos de atacado.

São mestrias concretas, (umas mais fáceis outras mais difíceis), que se exercem (melhor ou pior) normalmente por opção, no mato.
Os ofícios do mato são apenas aqueles que se praticam de determinado modo e não todos os outros, mesmo que estes tenham o dito objetivo de entendimento da natureza, (eu gosto mais da expressão: interação com a natureza).

Foi por isso que eu, no quesito do que é bushcraft, coloquei uma condição sine qua non, que é: o "craft" utiliza um recurso natural existente no "bush" onde se está? (seja ele uma madeira, um fruto silvestre, uma pedra, a água duma ribeira, uma constelação, ...).


Ora, posto isto, quando pensamos num povo nómada como o que falei temos 2 abordagens possíveis:

1) Isto é o supra sumo do bushcraft, a independência total de tecnologias modernas e o dominio perfeito dos crafts do mato.
Assumindo esta visão, tendemos, não como condição de partida, mas como destino, para um primitivismo "informado". Neste caso temos como objectivo a cada vez menor dependência tecnológica.

2) A questão do craft é imaterial e refere-se apenas à condição de saber/conseguir aplicar os conhecimentos.
Nesta visão, potencialmente preguiçosa, estou a acender o fogão a gás com o firesteel, mas não deixa de ser bushcraft, porque "se fosse realmente preciso eu sabia fazer com madeira". Aliás, também sei fazer n outras coisas, mas trouxe estes 2 ou 3 gadgets que fazem porque assim sobra mais tempo para explorar, comungar com a natureza e fazer muito necessário soul searching no mato.

Posto isto tudo, começo a acreditar que a definição mais clara é a das "mestrias concretas".
Tenho pensado e não me consigo decidir sobre a parte da opção - nós até podemos fazer fogo por fricção, mas porque queremos, muito dificilmente isso nos surge como uma necessidade - assim sendo, estando nós a falar de opção, e porque muitas vezes estamos salvaguardados por 2 e 3 opções alternativas para o que fazemos... não será tudo isto uma prática simulada? Um jogo? Uma brincadeira?

E por outro lado, é a vivência de uma tribo nómada "bushcraft"? Afinal, fazem-nos por necessidade (eventualmente decisão cultural), mas não deixa de ser A maneira como o fazem, sem grande espaço para alternativas, ou mesmo conhecimento delas.

E se o que a tribo faz é bushcraft... em que medida é que isso condiciona o que é a "nossa" definição de bushcraft?

(Sim, eu sei que tem mais perguntas que outra coisa, mas afinal, uma conclusão é um lugar onde se descansa quando se está cansado de pensar não é?)


EDIT: Entretanto o Jan postou, num sentido que me parece ir de encontro às minhas próprias questões.

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MensagemEnviado: segunda jun 01, 2015 7:55 pm 
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!ndigo Escreveu:
Posto isto tudo, começo a acreditar que a definição mais clara é a das "mestrias concretas".
Tenho pensado e não me consigo decidir sobre a parte da opção - nós até podemos fazer fogo por fricção, mas porque queremos, muito dificilmente isso nos surge como uma necessidade - assim sendo, estando nós a falar de opção, e porque muitas vezes estamos salvaguardados por 2 e 3 opções alternativas para o que fazemos... não será tudo isto uma prática simulada? Um jogo? Uma brincadeira?

É isso que tenho andado a defender aqui no fórum e a incutir nas atividades que promovo.
Uma prática simulada, um jogo, em que as "mestrias concretas" sejam realizadas num ambiente de necessidade de facto.
Se temos alternativas, preguiçosamente optamos pela mais fácil e lá se vai o bushcraft.

As pessoas esquecem-se é que a satisfação da superação duma dificuldade, está na medida do esfoço que foi necessário fazer.

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MensagemEnviado: segunda jun 01, 2015 9:22 pm 
Photographus Africanus
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Jan Escreveu:
Se temos alternativas, preguiçosamente optamos pela mais fácil e lá se vai o bushcraft.

As pessoas esquecem-se é que a satisfação da superação duma dificuldade, está na medida do esfoço que foi necessário fazer.



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Quanto à questão, pertinente, da segurança... Acho que nem é preciso sairmos da zona de conforto. Conforme se vai ganhando experiência e conhecimento a zona de conforto simplesmente começa a alargar-se...

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MensagemEnviado: segunda jun 01, 2015 11:28 pm 
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Para quem esteve no "Perduro na Estrela" esta foto, é exemplificativa.

Em dia de chuva, houve os que cozinharam a lenha e os que cozinharam a gás.
Todos comeram, mas os que cozinharam a lenha foram os que não tinham levado fogareiro.

Não levar fogareiro a gás era uma das regras indicativas da atividade. Alguns não perceberam isso, levaram-o e obviamente usaram...

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MensagemEnviado: quarta jun 03, 2015 2:41 pm 
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É aquele tipo discussões que para cada cabeça cada sentença. Todos nós temos ideias, objectivos e motivações distintas para aqui andar.

Eu cá para mim gosto é de ir para o mato e fazer "cenas", se é ou não bushcraft, é-me irrelevante. Há uma pressão enorme, para tentar rotular determina actividade com uma ou outra definição.

Exemplo retórico, capacidade de fazer fogo/fogueira
1. Sei , independentes das condições atmosféricas, como recolher e preparar todas os materiais (acendalhas, featherstick, etc) para poder fazer uma boa fogueira e no final em vez de usar "uns pauzinhos" cheguei-lhe fogo de um isqueiro/fosforo. Isto não é bushcraft?
2. Desde sempre, que o homem se faz acompanhar pelo melhor kit de fogo que disponível à época: os pré-históricos (que ainda hoje acontece com algumas tribos) faziam-se acompanhar do seu kit de fogo por fricção preferido, na idade média o silex fazia parte de qualquer kit de campo e no tempo da grande expansão americana, usavam os isqueiros de mecha de algodão. Porque que é que raio que não posso usar um isqueiro? Será contra natura?
3. Se fosse dada a oportunidade de um bosquímano ter um isqueiro em vez dos pauzinhos, será que ele não o aceitava e usava?

Não sou apologista de criar regras e definições estanques sobre o que é ou não é.

Nunca sai de casa para ir "fazer" bushcraft embora já tenha saído de casa várias vezes para ir acampar,caminhadas, caminhadas em autonomia, fazer picnics etc e nelas realizem algumas tarefas que se podem enquadrar dentro do espírito "bushcraftiano"

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MensagemEnviado: quarta jun 03, 2015 4:08 pm 
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Apesar se o termo em si ser quase auto-explanatório eu só recentemente me familiarizei com o Bushcraft.

Tenho perfeita noção que os vossos conhecimentos são muito superiores e os meus são na sua grande parte teóricos.
Ainda ontem ( fiz o post sobre o assunto na Secção de trilhos, mapas e roteiros ) estive a ponderar ter que fazer uma pernoita não planeada no Gerês, devido a ter começado um trilho tarde, e depois, penso eu, que for falta de manutenção perder o trilho e ter que voltar para trás, e estava a perder a luz do dia rápido.
Se não fosse a minha mulher toda preocupada, e quase a ir ao monte buscar-me com a colher de pau, eu teria pernoitado sem problemas.
Todo o conhecimento e o kit que tinha comigo davam-me a segurança para o fazer, já tinha o sitio escolhida com uma fonte à beira, bastante lenha seca disponível que muita dela nem precisava de ser processada e se fosse também tinha ferramentas para o fazer.
No entanto o abrigo ia fazer-lo com tarp, tipo um "lean to" mas aquele que fica um bocada de tarp a tapar o chão, para o fogo tinha bolas de algodão embebidas em vaselina, tinha um firesteel, mas ia usar um isqueiro quase de certeza, tinha um cobertor de emergência daqueles tipo mylar que ia usar ou para me cobrir ou para reflectir o calor, ainda tinha 2 pacotes de noodles e 4 sopas knorr. Comigo estava também o meu cão Spike que me aporta muita segurança nessas situações.

Eu tenho uma ideia talvez muito romântica do bushcrafteriano que só com a sua faca é capaz de fazer tudo o que faz falta.
Na minha opinião, bushcraft tem muito a ver com a capacidade de improvisação, quando umas destas comodidades nos faltar, por exemplo se a pernoita tivesse sido planeada, muito provavelmente levaria o saco-cama e uma tenda.
Mas, se fazemos fogo com bolas de algodão, ou apartir do momento em que usamos um tarp e não fazemos um abrigo com paus e folhas, deixa de ser bushcraft?


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MensagemEnviado: quarta jun 03, 2015 5:11 pm 
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Faca preferida:: pedra lascada
jpgrilo Escreveu:
Nunca sai de casa para ir "fazer" bushcraft embora já tenha saído de casa várias vezes para ir acampar,caminhadas, caminhadas em autonomia, fazer picnics etc e nelas realizem algumas tarefas que se podem enquadrar dentro do espírito "bushcraftiano"

A pressão que aqui faço é exatamente condizente com esta última frase, pois não sou apologista que o rótulo de bushcraft seja atribuído de atacado a esta ou aquela atividade, (apesar da tradição ou pressão existente), mas apenas à forma como se faz determinada tarefa, o que acima foi tipificado de “mestria concreta”.

Se relativamente aos exemplos que destes, experimenta fazer uma análise em concreto, é verás que é mais fácil opinar.
Porque na ação de fazer uma fogueira, uma coisa é os materiais que usas, outra é a forma como os preparas, outra é a forma como a acendes a fogueira, … umas ações serão bushcraft outras não.
Quanto aos kit´s (ou seja aquilo que levamos), independentemente da sua idade tecnológica, a sua simples posse, para mim não é bushcraft. O contexto do seu uso é que tipifica a coisa de bushcraft.
Claro que aqui a análise já é mais subjetiva. Não se trata de apreciar se é natural ou não, trata-se é de apreciar se o seu uso tem ou não o espírito do bushcraft. De qualquer forma, na minha opinião a apreciação vai decrescendo, com a idade tecnológica do processo / artificialismo da coisa.

jpgrilo Escreveu:
Se fosse dada a oportunidade de um bosquímano ter um isqueiro em vez dos pauzinhos, será que ele não o aceitava e usava?

Claro que aceitava. Mas quando estivesse a acender o fogo com ele, não estava a aplicar o seu conhecimento ancestral de bushcraft.
(vai acender o fogo, mas não é a mesma coisa)

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MensagemEnviado: quarta jun 03, 2015 5:21 pm 
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Jan Escreveu:
Na minha opinião, bushcraft tem muito a ver com a capacidade de improvisação,

Tenho a mesma opinião.

Thoregh Escreveu:
Mas, se fazemos fogo com bolas de algodão, ou apartir do momento em que usamos um tarp e não fazemos um abrigo com paus e folhas, deixa de ser bushcraft?

Se levamos as coisas de casa, onde está a improvisação?

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MensagemEnviado: quarta jun 03, 2015 6:07 pm 
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Faca preferida:: Bk7
Citar:
Se levamos as coisas de casa, onde está a improvisação?


Sim. Eu concordo consigo. Mas na minha opinião a improvisação deverá ser uma necessidade e não uma prioridade. As coisas que levamos de casa podem falhar ou romper e nessas situações não teremos outro remédio senão improvisar e ser criativos. Aqui os conhecimentos de bushcraft são fundamentais.

Também há a pratica de bushcraft para efeitos recreativos, satisfação pessoal, reforçar conhecimentos etc... e a pratica de bushcraft por necessiadade de força maior. Aí talvez seja mais importante usar as coisas que possivelmente teremos levado de casa e seguir o caminho de menor resistência de forma a poupar a nossa energia. No entanto aquele que pratica bushcraft frequentemente terá sem dúvida uma vantagem muito grande numa situação em que realmente o conhecimento importa.


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